Camuflado em mais um despretensioso thriller de ficção científica americanóide, este filme surpreendeu-me pela mensagem, não muito evidente a olho nú, que quer passar.
Por detrás de uma misteriosa epidemia mundial que altera o comportamento humano está a intenção de alertar para o facto de estarmos a alterar a nossa maneira de ser. A tornarmo-nos demasiado individualistas, demasiado insensíveis aos outros e ao que lhes acontece, cobardemente egoístas.
O vírus em contacto com o organismo humano despovoa-o de todas as emoções. A alegria, a tristeza, o ódio, o amor, a dor ou o prazer simplesmente deixam de existir, transformando o ser humano num espaço vazio e estéril.
Com tudo o que de bom e mau possa haver no Homem, somos seres capazes de sentir, de amar, de odiar, porque existe o outro que provoca todas essas emoções em nós.
Durante o filme fui retendo algumas frases, mas esta ficou-me particularmente na memória pela duplo sentido que poderá ter: "Don't show emotion, then they can't tell who's who". À partida e tendo em conta o contexto do filme a primeira reacção é interpretá-la como "desta forma eles não se vão aperceber que ainda não estás possuída, que ainda não és um deles", mas eu prefiro a versão "se não mostrares as tuas emoções vais ser mais um, igual a todos os outros". Porque eu acredito que nos diferenciamos, que nos tornamos exclusivos pela rede de sentimentos que vamos cosendo e que nos faz olhar o Mundo e senti-lo de uma forma única.
No final fiquei a pensar: se por um lado sem sentimentos a nossa existência seria mais pacífica (sem guerras, sem dor, sem preocupações) o preço a pagar seria demasiado elevado… perder todas as sensações, perder aquilo que nos dá ânimo para continuar, para experimentar, para fazermos desta passagem uma viagem inesquecível. E para mim o que torna cada momento memorável é o que eu sinto enquanto o vivo.
Perdidos no deserto